Uma fraqueza soterrada

By Daniel de Castro - julho 07, 2020


  Olá pessoas, beleza? Relacionamentos ... amizade ... colegas ... onde ficam os limites? Existem limites? A maturidade de quem se permite correr na chuva ou dar pulinhos de alegria pode ser compreendida ou julgada por quem define maturidade em oprimir vontades tão naturais para manter uma "postura respeitável"? O bom e velho respeito nunca sai de moda. Não quer? Não pule! Mas deixe pularem desde que não seja em você ou em seu território.


  Superar algo é tão complexo e simples, mas pessoas nem sempre sabem exatamente o que superaram, o que se adaptaram, o que oprimiram ... e sou dos que pensa que cada um faz o que quer com a própria vida contanto que não afete a dos que não tem nada com ela. E se alguém soterra um problema achando que resolveu tende a soterrar coisas que quer resolver, e algumas até se resolvem assim, mas muitas só pioram.

  Eu constantemente sou elogiado pela forma como me expresso e me comunico. Já ouvi de pessoas que deveria trabalhar com isso ( um dia eu chego lá rs) e, em muitos casos, pessoas me agradecem por explicar coisas que elas já tinham sido informadas mas que, a forma como eu me expressei foi melhor assimilada.

  Isso não é natural, sou social fóbico desde sempre( desde que me entendo por gente) e isso afetava minha dicção. Quando jovem, era constante alvo de piadas, pois quando tentava me expressar e me tornava alvo das atenções, ao perceber isso, perdia o foco e minha dicção ficava horrível, minha voz tremulava e baixava e boom! Piadas, piadas e ... piadas.

  Lembro de um dia, depois de uma "vergonha passada" específica, olhar para o espelho e começar a falar pausadamente, palavra inteira por palavra, tentar não deixar meus batimentos acelerados ou a "certeza" de que todos a minha volta estavam reparando em mim me desconcentrar e, assim, fui aprendendo a me comunicar, suprimindo medos, soterrando a fobia.

  Isso pois, mesmo sem assumir, sou um ser que valoriza muito o social, não os "rolês" com a galera, mas sempre gostei de ter um bom amigo para brincar, rir e chorar junto, mas como isso é complicado para alguém com esse tipo de problema, vesti uma mascar que fundiu-se com minha face ao ponto de, quando eu a removi, ela me desfigurou espantando muitos que não mais me reconheciam ( e eles estavam certos, pois o Dani que os atraiu não era de verdade).

  Provavelmente, se eu tivesse feito isso da forma adequada, com um fonoaudiólogo ou especialistas da área, não teria me desgastado e deixado as marcas que tanto me atrapalharam. É como se uma pessoa magra, cansada das piadas começasse a se exercitar em casa, exaustivamente e ganhasse músculos, ficasse visualmente forte mas, devido a falta de técnica, desenvolvesse problemas de coluna ou coisa pior. Não que isso não seja possível, mas para mim custou caro.

  Como é complicado lidar com o subjetivo não? Mas era só uma dicção Dani ... eram só brincadeiras ... talvez para alguns, mas para mim, era como algo fundamental e a principal lição que tirei disso é, que não devo julgar as decisões de ninguém, muito menos os que não posso sequer mensurar o tamanho do desespero. Muitos de nos se tronam pessoas que odeiam para pagar as contas, uns se adaptam, outros não. As contas são o mais importante para uns, o social para outros, o amor para tantos ...

  Muita gente fica muito boa em coisas que eram seu calcanhar de Aquiles mas, quase sempre, se isso for feito de forma traumática e desgastante, movida por ódio ou mágoa, a dor pode torna-las amargas e até cruéis. Muitos até podem passar a "atacar" os que não fazem como eles, alguns passam a julgar e até oprimir os que não conseguem ser diferentes. Aquele que estudou e se esforçou, muitas vezes "podando" vontades e até necessidades para se tornar erudito tende a se ofender e atacar o que o vê qualquer nível abaixo do que se esforçou para alcançar e, muitas vezes é apenas limitação de quem o rotula, mas a forma como este se ofende pode ser um indicativo sobre a possibilidade de rever se ele queria ser erudito ou ser "visto e reconhecido" como erudito.

  Minha fobia social me mudou, cada limitação que superei me desrespeitando durante o seu período inicial era mágico. Eu me gabava de "controlar" medo, angustia, tremedeiras, vergonha e tanta coisa que, hoje, um homem de 38 anos percebe que eram sinais de coisas que eu tinha que resolver e não suprimir, tratar e não soterrar, que me expressar é sim importante mas, pessoas sempre encontram algo para fazer piadas e nem todas querem te soterrar. Mas o jovem Dani até gostava disso, de "esmagar" as fraquezas e se tornar bom no que parecia forjado para ser ruim, só que mais tarde eu sentiria na carne o preço dessas opções e por sorte, tive muita ajuda.

  Por fim, hoje vejo que muitas das superações e coisas que escolhi "bater de frente" enquanto outros da minha idade ( e até mais velhos) se esquivavam, ignoravam ou apenas nem percebiam não pertencem ao campo do certo vs errado. Aos 38 anos não acredito mais em verdades absolutas e alguns estavam certos quando diziam que eu ia me destruir vivendo como vivia, mas o fato é que o passado passou, e estas coisas sempre voltam, seja como oportunidade de eu "me vingar" de algo, de eu "mostrar e provar" algo, mas hoje quero ser o melhor que puder, não para mostrar, provar ou convencer alguém, não tenho mais tempo para vingar injustiças que, para ser bem justo, nem sei se aconteceram, mas se aconteceram, certamente vão consumir coisas valiosas se eu me prender a esse sentimento tão pequeno.

  Quero amar, viver e me descobrir a cada dia, permitir aos outros isso também, me libertar de traumas, superar os limites e respeitar as fraquezas, não me atropelo ou soterro mais, não depois de decidir que quero fazer isso pois, assim, quando as consequências chegarem, não existirá nenhum culpado além de mim e cada ero que cometo, quando fruto de um passo pensado, depende apenas do meu perdão.

  Quero apenas os erros que me envolvam, sem afetar os que me cercam, exceto quando eles decidirem que querem fazer isso. Quando conheço alguém, tenho uma forma tida como "não muito inteligente" rs, de mostrar minhas fraquezas e escancarar o quão "quebrado" ainda estou pois, elas tem o direito de não querer minha companhia. Hoje prefiro espantar alguém que gostaria de ter por perto com minhas incômodas verdades do que soterrar com minhas elaboradas e agradáveis mentiras, assim, me sinto melhor, devo menos explicações e me aproximo mais do que realmente gosto.

  Hoje quero voltar a ter meus amigos, mas só se merecer, sem jogos de merecimento ... é estranho mas tem um conceito por traz desta frase aparentemente tão confusa, mas não quero me prender a nada que não possa ser negado sob penas amargas, quero a doçura de relacionamentos livres e maduros onde amizade e dívida se repilam, quero estar com quem queira estar, simples assim.

  Isso pode mudar? Sim, como tudo que escolho hoje, deixo sempre ma ponte para voltar, mas não entro mais em guerra comigo por ninguém, e curiosamente não tenho tido muitas guerras com os que ainda escolhem estar comigo. Não quero mais "superar" coisas que criem amarras ou traumas, custos que amanhã me impossibilitem apenas de não mais, ter que esconder verdades para não soterrar relacionamentos e quero permitir o mesmo pois, assim encontro paz :)

  Sempre é bom lembrar que isso é apenas minha forma de ver a coisa, minha interpretação de algo que vivi e não tento passar tutorial de nada, apenas expor coisas, apresentar uma forma de pensar ok.

  Imagens via: Pixabay

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2 comentários amáveis

  1. Todos temos fraquezas, mas o processo de assumi-las e evitar escondê-las demora muito. Conforme a gente cresce, vamos aprendendo com nossas inseguranças ❤

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