Até minha hipocrisia me salvar.

By Daniel de Castro - janeiro 03, 2021

 


  Olá pessoas, blz? Tenho como opinião própria que a intolerância se combatida, eliminaria boa parte dos conflitos. Mas me vejo sem uma resposta quando um exemplo se faz necessário. Como combater a intolerância? Onde nasce a intolerância? Criação? Índole? Uma coisa faz muito sentido nos intolerantes que conheço, incluindo minhas próprias intolerâncias, elas nascem de como não toleramos coisas nossas e como algumas coisas foram impostas a nós.

  Um exemplo? Quando muito jovem, devido a ser pertencente à uma família muito "religiosa"( o que nem sempre significa espiritualizada) fui "educado" a ver palavrões como uma espécie de "vocativo do demônio" e na época lembro da sensação que sentia quando xingava, eu imaginava (literalmente) Jesus ( ou o que imagino que ele seja) me olhando feio, eu arrepiava e pedia perdão mentalmente com um sentimento de culpa indescritível. A parte complicada é que me sentia no dever de impedir que qualquer um xingasse, uma espécie de "guardião" em nome de um bem maior. 

  Hoje, percebo que os "vocativos chulos" e palavrões ganharam até um certo charme para muita gente e vejo até represarias sublineares aos que não xingam com constância, não sei se isso é bom, acho que não, mas tenho preocupações maiores, mais ligadas ao caráter do que à linguagem. 

  O fato para mim é que a sensação de culpa passou, xingo (com moderação e nos lugares e presenças que acho coerentes) e não tento corrigir muito menos me incomodo com quem o faz e talvez, apenas talvez, essa seja uma das formas de combater a tolerância, se permitir. E não estou falando de libertinagem mas sim de liberdade, não quer não faça, mas deixe que façam, assim como quer fazer faça, mas tenha a mínima responsabilidade e assuma as consequências de seus atos.

  Educação, religião, o "socialmente correto", etiqueta e tantas coisas que vão "lapidando humanos e sociedades" tem sua importância, quando não existe bom senso e responsabilidade muitas vezes só resta o controle que quase sempre se torna algum tipo de domínio, mas como achar os limites disso?

  Talvez, e apenas talvez, seja hora de repensar como isso começou até para que não aconteça novamente, com pequenas coisas cotidianas, um assunto perto de uma criança, uma teoria nossa que vendemos como verdade, uma regra imposta que por mais bem intencionada que possa ser, gera seres reprimidos que amanha serão repressores. Eu sei que isso é uma verdadeira casa de maribondo, tantas religiões e costumes, tantos ateus e pensadores cada um com suas ideologias tornam quase impossível um consenso.

  Sabe a velha história do "golfinho inapto se avaliado pela sua capacidade de voar"? Eu me apego a ela e a alguns fatos que livros contam. Por exemplo, Dick Fosbury foi o primeiro saltados a usar a técnica do "salto como conhecemos hoje", deitado, e ele foi massacrado na época, ( aqui tem uma matéria do Terra com mais detalhes caso interesse - clique aqui -), e me pergunto se isso fosse na era do face, insta e redes sociais que definem certo/errado através de aceitação, likes e popularidade, se não estariam pulando como antes até hoje, só para não ser "estranho". Se o pobre Fosbury não estaria torcendo para um "popular" comprar sua briga, um famoso pulasse com sua técnica e assim, aceito nas mídias sociais, alguém olhasse para o potencial da sua técnica. 

  Nessa hora fica impossível não me perguntar quantas coisas desse tipo não estou ignorando, não gosto por ser errado mas, para mim? Até onde a coleira que uso não parece um belo colar? Isso me pira, mas tento manter leveza e deixo sempre 1% aberto a possibilidade. 

  Vou ter que esperar minha hipocrisia me salvar sempre? Como ela salva? Voltando ao exemplo do saltador, digamos que eu fosse um saltador contemporâneo a ele e fizesse piadinhas, criticasse, ridicularizasse ele mas ... sem ninguém vendo, sob a capa da minha curiosidade, eu saltasse como ele e percebesse o potencial da técnica ... bom agora o discurso muda né? Estou diretamente impactado com a parada, logo, não é mais tão ridículo certo? Essa hipocrisia que acidentalmente salva algumas coisas de tempo em tempo.

  Mas e se eu não fosse um saltador? Aí está o que talvez seja o maior problema ... olhar para algo que "não tenho propriedade" para avaliar, ou até tenha mas seja "diferente de mim", conheço mas não vivo, vivo mas não conheço, tanto faz ... não conseguir relevar que, algo que para mim é errado, pode ser certo para outro, fazer aquela velha pergunta, por qual motivo isso me incomoda tanto? Será que eu não quero pular assim? Será que ver um cara tendo coragem de pular assim com todo mundo rindo dele não me traz a outras coisas que gostaria de fazer mas não faço? Ou eu não seria apenas um chato mesmo que curte rir dos outros? Por qual motivo tenho que impedir o cara de pular assim se não esta pulando em mim? 

  A vida talvez, e apenas talvez será melhor vivida quando passarmos a olhar para o outro sem buscar nosso reflexo sabe? É difícil pois todos fazemos isso em algum nível ( se vc não faz desculpe, apenas minha limitada experiência opinando ok) mas limites seriam muito bem vindos. 

  Não quero esperar que um filho que ainda não tenho seja algo que não sou para guiado pelo meu amor incondicional respeitar os outros que são entende? A sociedade seria mais leve se cada um cuidasse do que é antes de "podar" todos que querem ser, lembre-se de que em uma época não tão distante assim, "lugar de mulher era no fogão", "vender escravos era lucrativo", "judiar de animais não era crime", "casar com criança era normal", e tanta coisa que não é mais, mas ainda é em alguns lugares não tinham nem 1% de abertura para discutir sobre o assunto, que muitos deram suas vidas, reputações e pagaram preços altíssimos para que hoje, ao menos a possibilidade de pensar sobre o assunto seja um direito, um dever. 

  Sempre que a maioria define um certo/errado, uma perseguição é iniciada ou um grande movimento começa tento ver o que é a energia movendo a coisa, amor ou pura revolta? A revolta já municiou libertações importantes, mas também já foi combustível de páginas tristes da história humana, então tento seguir meus instintos, ler, me informar e respeitar o que não conheço, essa é a única coisa que posso fazer para não depender da minha hipocrisia, não ter que "me tornar" o que persigo para só assim "lutar pela liberdade deles",  hoje tento não perseguir nada além de meus sonhos, corrigir nada além de meus rumos e mesmo assim, acabo entrando em terrenos alheios mas, peço desculpas, concerto a cerca ou muro que não percebi e volto para meu caminho, a não ser quando o terreno antes desconhecido se torna agradável e acabo fazendo companhia ao "invadido", é surpreendente quanta coisa boa oo mundo pode oferecer quando deixamos 1% de "talvez" em pauta :) 


imagens via: pixabay

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