Doenças que nos impedem de olhar bem.

By Daniel de Castro - fevereiro 09, 2021




  Olá pessoas, beleza? Síndrome do pânico ... a coisa que me obrigou a repensar minha vida. Uma limitação complicada pois, quando me deparei com ele, com uns 22, 23 anos mais ou menos eu não tinha a menor ideia do que era. A fobia social eu lidava relativamente bem( isso eu pensava na época ...), ela não me impedia tanto de fazer minhas coisas( impedia sim, e as que conseguia tinham um peso enorme ...), nunca fui muito "sociável" eu jurava para mim, mas não era bem isso.

  Sempre gostei de ter um grupo, não como as pessoas que tem muitos amigos, mas sempre gostei de ter uma galerinha, mas me agarrava a desculpas como "estou melhor aqui" só para não "ir para lá" sabe? E não falo das festas que sempre acabavam em confusão ou dos lugares perigosos que colegas frequentavam por seus motivos, falo de reuniões de família e principalmente do colégio, uma fase boa para quem tem mente saudável, onde uns de nós mais se esconde do que vive. Muitos lugares que não fui,  festas que não frequentava e grupos que me isolei foram de forma consciente, meus conceitos de diversão sempre foram bem próprios, mas com o tempo fui percebendo que foram muito mais afetados pela fobia do que eu podia perceber.

  Uma doença silenciosa, que parece com muitas coisas, mas vai deformando quem sofre dela, e o pior é que como lidei de forma errada acabei me convencendo que aquele pedaço de fuga e esforço era eu, aceitei as muitas superações e abracei um Dani que não era só para não quebrar, mal sabia eu que isso ia custar caro. Mais tarde viria a síndrome do pânico, e minha vida pararia, eu lutei contra isso no começo, perdi alguns empregos, alguns amigos, me afastei de gente importante para mim e mais ou menos com uns 28 ... a vida estacionou.

  A vida como é necessária eu digo, principalmente quanto ao sustento, parei meu curso de TI, parei de sair sozinho, parei ... parei ... tanta coisa simples como aquele dia que você não tá legal e só pega um ônibus e saí sem rumo, um shopping, a casa de alguém ou como eu gostava, apenas andar e ver gente, ver vitrines, luzes ... ahh como eu gostava de sair a noite ... mesmo sendo sempre perigoso, São Gonçalo sabe como é, né ?

  Com uns 32 ou 33, eu comecei a me tratar de forma mais correta ( ou coisa parecida). A fixa caiu e tive que aceitar que estava doente, que estou doente, que talvez eu seja doente. A vida "como é necessária" não perdoa pausas, não conseguir me sustentar durante quase todo tempo virou uma "confortável alça", sempre fui de me cuidar e um cara com essas doenças bem arrumado, cheiroso e com corpo aceitável só pode ser um mentiroso explorador certo? Errado! 

  Cada um sabe onde seu calo aperta e, perder a autonomia de coisas simples dói, mas não tanto como doíam os julgamentos pelas costas, na cara ninguém fala, mas o zum zum zum, as perguntas maliciosas, essas são perigosas pois, com o tempo algumas culpas que não cabem começam a ficar íntimas. As pessoas não reparam né? Cadê aquele jovem brincalhão, forte e sempre disposto a ajudar? O primeiro a pular de roupa na água? Que se enfia em problemas que nem eram dele pra tentar ajudar quando tinha 1.000 motivos para fugir? Como ele virou um "parasita" aproveitador? Como alguém que viajava, visitava gente agora esta "feliz" em casa? Algumas mentiras, mesmo que óbvias parecem confortáveis principalmente quando queremos acreditar nelas, e hoje eu respeito isso, mas nem sempre foi assim.

  Outro dia eu estava assistindo Dawson's Creek e no capítulo que ele tem umas crises de pânico eu chorei como choro sempre que penso em como seria se eu tivesse me respeitado, buscado ajuda, conversado, dado uma pausa opcional lá com meus 18 ou 19, quando a coisa começou a desandar sabe? Se não tivesse "me obrigado" tantas vezes a fazer coisas que nitidamente eu não aguentava, esmagando o pouco do emocional que eu tinha, me afastando de coisas que eram importantes para mim por não entender que eu estava doente. O fato é que tudo que passei me tornaram quem sou hoje e até aqui, a mágoa e raiva não me dominaram então, em um momento comecei a pesquisar, ler, ver vídeos, buscar ajuda de médicos e hoje, aos 39 anos me sinto melhor cimo não me sentia sei lá, em 10 anos eu acho, mas as limitações ainda são um tormento.

  Eu estava indo bem cara, em Barra de São João eu tinha andado sozinho depois de sei lá quantos anos, aquele lugar me dá uma força que nem sei de onde vem, sou muito ligado à Natureza e lá me sinto forte, sem contar com a insegurança que São Gonçalo passa, eu e minha companheira fizemos planos, eu tinha certeza que as coisas iam mudar!  Aí veio a pandemia ... por sorte tenho quem cuide de mim, mas novamente estou parado, pesquisando algo para voltar a ter autonomia, para sair daqui, para voltar a fazer coisas simples e necessárias. 

  Na vida acontecem coisas que na hora parecem punição mas, estou aprendendo a acreditar que tudo tem um motivo, a ver como uma pausa obrigatória até que algo mais sólido possa acontecer, então até lá vou curtir cada dia com tudo que puder, prometi para mim que esse seria meu melhor ano de vida! E tem sido ótimo levando em conta o pano de fundo, já que até consegui ajudar algumas pessoas apenas relatando minhas experiências. Muitos de nós, passa m por coisas e não sabem como explicar ou esperam que outros possam entender mas, se entender talvez seja o melhor caminho. Vão julgar, vão se meter até tentando ajudar mas, no fim, cabe a nós aceitar ou não. E sei que tem gente sozinha nessa luta mas, assim como eu fui um dia, tem gente "se vendo" sozinha, talvez por alguém que é muito importante para você não estar aí e o desespero de querer muito alguém pode nos cegar para outros que sempre estiveram ali. O pai que queria o filho e ignora o amigo, o amigo que queria a companheira e ignora a mãe, a mãe que tanto queria sua amiga e ignora sua avó ... existe muita gente largada neste mundo, mas também tem muita gente como eu fui um dia, sem olhar direito à sua volta. 

  Curado? Não, e nem sei se vou ficar 100% um dia ... o que é 100% ... mas estou mais grato, amoroso, aprendendo a perdoar, a pedir, a negar ... no fim essas doenças me ensinaram muito, sobretudo a valorizar momentos e pessoas, pois coisas simples e cotidianas parecem sem valor até não poder mais fazer, assim como pessoas são só pessoas até o último adeus que, ninguém sabe a data. 

  Fica aqui meu cuide-se, hoje tem muita gente se esforçando para ajudar, falando sobre coisas que antes eram só "coisa de doido" e não se preocupe se tem muita gente que usa essas doenças para obter ou fugir de coisas, preocupe-se apenas em saber se é o seu caso e se não, tente se fortalecer para lidar com julgamentos, um dia li algo como: "às vezes as pessoas fingem que você é uma pessoa ruim para que elas não precisem se sentir culpadas pelo o que fizeram com você", e isso me ajuda a não plantar mágoas. Sempre dói um dedo na ferida, mas até que eu revide só tem um agressor e é claro que isso de não revidar é algo pessoal, tem hora que não dá, mas se priorize sempre, quando com pouca energia, apenas se afastar e curar a ferida pode ser melhor que entrar em uma briga que, pode ser exatamente o que o outro quer, te transformar em algo que você talvez não seja, ou essa energia gasta na briga pode ser a última, nunca se sabe.

  Deixo também um papo que muita gente acha clichê mas, amor liberta, tenha amor próprio, busque isso, leia sobre isso, faça terapia, busque médicos ... perdoe-se e assim perdoe mais, esse peso da mágoa, o vitimismo e raiva só atrapalham. Tente passar mais tempo atrás de soluções do que de culpados, nem todos querem nosso mal, muitas vezes é apenas "caos da mosca vs cotidiano da aranha" sabe? Distância saudável pode curar tanto como um abraço, ame muito, sorria, dance, cante, comemore cada pequena conquista nem que seja ir até a padaria e voltar bem, com o período que vivemos, momentos como esse que vivemos expões a fragilidade da vida então, desejo de coração que cada um consiga aproveitar bem cada segundo.

  Viva a sua vida da melhor forma que puder, tente não se preocupar tanto com planos, mas sempre tente se planejar bem, não deixe que construir um bom futuro destrua um presente ou que um passado doloroso o impeça de sorrir hoje, são só desejos, sei que tem pessoas vivendo guerras que não permite essas coisas mas, talvez e apenas talvez, você seja mais um que como eu, apenas não percebia opções que sempre estiveram ali. Então respire fundo, olhe bem a sua volta, talvez alguém ou alguma coisa muito importante estejam apenas esperando sua atenção :) 

Imagens via: Pixabay

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