O valor de um talvez que se tornou escolha.

By Daniel de Castro - fevereiro 08, 2021

 



  Olá pessoas, beleza? Esses dias eu pedi comida e quando o entregador chamou, eu e minha esposa fomos atender de mascara, ele olhou meio incomodado, coçou a cabeça e como geralmente consigo "quebrar o climão" com muita facilidade, um sorriso, uma brincadeira ... não curto ambientes pesados, ele logo perguntou: "Gente ... vocês não estão com covide não, tão?" Eu dei risadas e disse que achava que não, e perguntei o motivo. Ele me disse que "éramos as únicas pessoas de mascara que ele tinha atendido naquele dia". 

  Depois de uma longa cara de surpresa, eu sorri novamente e o expliquei que no meu quintal são 4 casas, uns 5 idosos ao menos e que acho que assim me protejo e os protejo, ele, um jovem fez aquela cara de quem para para pensar e disse que também usa quando visita a mãe, ele pensou mais, sorriu, me desejou uma boa noite e continuou sua luta.

  Contei isso à uma pessoa que logo se irritou e me perguntou: "E ele estava sem mascara!" "Se vocês fossem pessoas mais "críticas" poderiam ter o indagado!" "Ele é que isso..." "Ele é que aquilo..." e só o que consegui responder foi que aqui onde moro, fui um dos primeiros a usar máscara e ainda sou um dos poucos que usa, que o jovem talvez não tenha suportado a pressão e as piadinhas de usar algo que talvez até ache correto, mas trabalhar com o que ele trabalha no horário e dia que estava, já é pesado o bastante para peso extra.

  E eu quebrei por isso, não sei como seria se tivesse que trabalhar nesse momento sabe, lidar com minha fobia social e a síndrome do pânico já era pesado sem pandemia, eu já escutei uma conversa de uma chefe onde as palavras "inapto" e "não tem perfil" explicaram minha doença, independentemente de minhas necessidades e lembro da dor, hoje sem vitimismo ou achando a chefe um monstro, eu não entendia o que acontecia comigo imagine ela?

  O fato é que muitos de nós "é ou está" coisas que talvez não seja, uns para garantir o sustento, outros para fugir de coisas ou pessoas, para conquistar coisas e pessoas, muitos precisam "ser ou estar" o que são e outros apenas escolheram, tantos nem sabem ou percebem que "são ou estão" tantas coisas, o fato é que tento não julgar, tomo minhas decisões, avalio os riscos possíveis, proponho aos que estão comigo e deixo opções antes de imposições e é claro que acabo errando no processo, tem dias que "sou ou estou" as coisas que mais abomino, mas esses dias tem passado cada vez mais rápido e com cada vez menos "vítimas".

  Cada ser vem ao mundo com e sem coisas, pessoas, oportunidades ... somos um conglomerado de coisas que nem sabemos de onde vem ou por quais motivos não temos e cada um em sua guerra diária por tudo aquilo que quer, necessita, escolhe, foge ... e tanta coisa boa se perdendo no processo ... menos sorrisos, menos obrigados, menos eu entendo ... cada vez mais "mas é meu direito", "apenas sua obrigação", "caras amarradas" ... e sei que muitos não tem opções, apenas não quero ser um deles enquanto tiver as minhas sabe? "Quem não tem cão caça com gato" e para conseguir muitos ter~~ao que chamar gato de cachorro, não "apenas por serem mentiroso", mas talvez por não aguentarem a realidade que chamam de vida. 

  E assim seguimos, muitos de nós soterrados por tanta dor e cobrança que confunde um jovem assustado se arriscando por seu sustento com os tantos irresponsáveis egoístas "cagando e andando" para os outros, quem é quem nessa bagunça passa a importar menos, ao menos na minha rasa e humilde opinião, quando eu consigo avaliar meus riscos sabe? Eu e minha esposa estamos cientes de que, pedir comida nesses tempos é arriscar, não sei como foi feita exatamente, mas naquele momento decidimos arriscar, os dois e nos tempos em que vivemos quase tudo é arriscar, talvez como nunca tenha sido antes em minha curta vida. Tento não descontar nos outros que cometem erros diferentes dos meus e ainda assim de vez em quando desconto então, melhor seguir minha busca "utópica" por amor, paz e mais compreensão na esperança de que no fim, ela seja só mais uma das coisas "utópicas" que não desisti e hoje vivo, sem cogitar que pode ser uma das que me dediquei e hoje são cicatrizes. 

Imagens via: Pixabay    

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