O preço de cada tropeço.

By Daniel de Castro - março 17, 2021

 



  Olá pessoas, beleza? Sempre fico intrigado com a tal "cultura do cancelamento", essa coisa de "linchar até a morte da imagem" ( e em alguns casos um pouco mais que só a imagem ...) da pessoa que erra. Erros são etapas de aprendizado da vida, errar é humano e cada erro deveria ter um peso, uma lição, aquela dor que te faz pensar nas ações, que te muda.

  Evoluir não é exatamente "melhorar", evoluir a óbito é um exemplo disso, coisas ruins evoluem, tudo que for pensado e trabalhado tem potencial para evoluir mas, regar uma planta, adubar uma terra é fazer com base em nutrientes algo crescer, e o que exatamente estamos alimentando, evoluindo com a tal cultura do cancelamento?

  Eu acredito que ela como muitas outras coisas que caem na conta do mundo globalizado não foram "criados" por ele, apenas "evoluíram" por agora, o que antes era só fofoca maldosa virou profissão, difamar é um crime, mas também caminha para se tornar uma valiosa carreira já que um mundo onde cada vez mais reputação e imagem valem mais que caráter e conduta, alguém que possa sabotar bens tão valiosos alavanca um mercado que cresce, evolui assustadoramente.

  Onde isso vai parar? Bom, vou dar uma opinião sobre algo que minha geração acompanhou, que eu vi de perto e sei que posso ter vivido um "fato isolado", algo apenas com os que compartilham de minha realidade, mesmo tendo fatos e números gritando que isso não é apenas acaso. Cresci vendo meus pais e meus avós respeitando os seus antepassados, e hoje até percebo que alguns desses nem mereciam respeito, mas na época uma espécie de "pudor" ou "moral" não permitia exceder alguns limites, existia uma espécie de "regra" para com os mais velhos, respeito e mesmo tendo aqueles que não respeitavam essa regra, lembro bem dos comentários sobre eles.

  Alguns desses "rebeldes", eram crianças como eu e nas rodinhas sempre falavam "quando eu crescer ... ha eles vão ver!" ... e eles cresceram, pude ver alguns deles, agora adultos e com filhos desrespeitarem seus pais e antepassados, quebrando as tais regras que sob suas óticas eram erradas. Não só as quebraram como incitavam filhos e jovens a não respeita-las, não venho aqui generalizar pois, muitas "regras" e "costumes" não só "deveriam" como "necessitam" ser revistos, falo do bom e velho respeito aos mais velhos. Pois bem, alguns deles agora começam a perceber que se tornam a cada dia mais velhos e as gerações que eles mesmos municiaram com ódio aos antepassados se volta contra eles pois, grande parte dos que pude acompanha não se revoltava contra "opressão", algo que deve ser sempre combatido, aproveitaram para pintar insubordinação de direito, e agora não tem nenhum argumento que não se pareça com mera hipocrisia para apelar por piedade aos mais jovens que os pisam como os viram pisar nos mais velhos que os "oprimiam" e o único problema é que revolta transforma tudo que nos contraria em opressão, até as valiosas "podas morais" que ajudam a definir um caminho para um caráter digno, sem contar com a boa e velha compaixão já que, nossos antepassados temiam psicólogos e não tinham 1/3 do acesso às informações que temos, eram outros tempos, eles nos feriram e até quebraram coisas em nós, mas muitos deles estavam querendo nosso melhor, hoje você tem duvidas joga no google, na época deles era erro até acertar ou achar que acertou. Muitos de nós hoje sofrendo com os jovens não percebem que em algum ponto contribuímos com essa nova cultura com nosso exemplo, que toda a misericórdia que não pudemos, cada um por seus motivos, dar aos nossos antepassados muitas vezes nos falta quando buscamos em outras gerações, muitas delas inspiradas em exemplos dados por nós mesmos.

  Isso é um breve e talvez até grosseiro resumo de um ponto de vista, eu o exponho apenas para apontar algo que se repete, na minha humilde opinião, a cultura do cancelamento aponta tanto ódio e necessidade de destruir o mal sem trabalhar discussões importantes sobre uma porcentagem de muitos deles habitar, talvez de forma oculta, em cada um de nós. Erros devem ter efeitos, a dor ensina, mas imagine se só tivesse direito de cometer um erro, que tipo de ser humano eu seria? Se eu me preocupasse mais em não expor um erro do que entender o motivo para não cometer? Se eu tivesse mais medo de errar do que de pensar em o que é errado? Se eu me visse obrigado a "linchar" pessoas sem nem pensar em seus motivos e depois de "anular socialmente" um ou dez, me visse como um deles? Pois é ... muitas e muitas perguntas, muitas e muitas respostas e poucas soluções ... isso não é um julgamento, acho que é mais uma tentativa de inspirar à pensar sobre isso, o que falamos para as crianças e jovens quando nos deparamos com um "errado" diferente de mim? Explicamos ou execramos? 

  A tática do "boi de piranha" parece uma solução muito boa, menos para o boi mais lento, então vamos esperar o que para repensar como tratamos esse tipo de coisa? Não que alguns casos não mereçam coisa até pior que isso, mas cada caso é um caso, mas o ódio queima tão rápido que é difícil controlar, ele espalha e acaba sempre passando dos limites. Um dia talvez viveremos em uma sociedade mais justa e as covardias não serão tão comuns e cotidianas, mas até lá quero evitar tocar fogo no circo, até por não saber se eu é que serei o palhaço sem palco depois. 

  Erros e tropeços formam nosso caráter, com os limites que cada um vai conhecer é claro, espero que as próximas gerações olhem para nós com a misericórdia e gratidão que sinto mesmo pelos que me prejudicaram mas percebi amor e boa vontade neles, espero que eles percam ainda menos tempo que eu perco com raiva dos que fazem isso mais vezes do que eu posso aguentar, que aguentem mais que eu, que percebam mais cedo do que eu percebi que amor e perdão são maravilhosos, que lamentar o que aconteceu não concerta nada mas perceber os motivos de cada um pode filtrar lições da dor, pode dar propósito posso posso acusar o que me feriu, posso ferir o que me feriu, me revoltar contra o que me feriu, mas não posso ser diferente dele enquanto não encontrar um eu que me baste, que errem e tentem, que lembrem de mim ou apenas me esqueçam, mas nunca gastem seu precioso tempo cancelando e selando um futuro apenas por não se libertar de um passado. É mais difícil de fazer do que falar, mas espero que eles se unam nessa missão, que não desistam de tentar, espero que me perguntem sem medo das respostas, que eu responda sem medo de desapontar, que os ensine como aprendi e que possa aprender como pude ensinar aos meus queridos antepassados que me permitiram trocar informações, que sejamos um só em busca de um amanhã melhor que hoje mesmo quando o hoje for pior que o ontem, que nada além de escolhas nos separem e que nunca nos juntemos por nada.

Imagens via: Pixabay

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